quarta-feira, 16 de julho de 2014

Morreu Roberto Nunes, idealizador do Cine Cult



Roberto Nunes_http://bangalocult.blogspot.com
Roberto Nunes num dos eventos do Cine Cult

 

 Ainda custo a acreditar na notícia publicada no portal da Tribuna do Norte, na manhã de ontem: “Roberto Nunes, produtor do Cine Cult, morre em Natal”. Mas é verdade. Vítima de uma hemorragia digestiva, o paulista de 47 anos, faleceu na madrugada de ontem, no Hospital Walfredo Gurgel, da capital potiguar, onde residia. Ele era diabético e hipertenso.


Pode-se dizer que o idealizador do Cine Cult, o cara que trouxe para Aracaju, a possibilidade dos cinéfilos sergipanos não ficarem tão desatualizados em matéria de estreias do dito “cinema independente” ou “de arte”, deixou uma parcela considerável de órfãos. 


Nunes, através da Cine Video Educação, iniciou suas atividades na capital sergipana, em setembro de 2005, quando implantou no extinto Moviecom, do Riomar Shopping, o Cinema de Arte. O projeto proporcionou ao público carente de bons filmes no cinema, o prazer de conferir produções da estirpe de “Dogville”, “O Leopardo”, “2046”, “Pai e Filho”, “Time”, entre outros, até 2007, quando o cinema fechou suas portas.


Depois, Roberto Nunes levou a ideia ao Cinemark, que a abraçou. Nascia, assim, o Cine Cult, que deu tão certo na pequena Aracaju- a estreia por aqui foi com o filme “O Hospedeiro” de Joon-ho Bong – que aos poucos foi sendo levado para outras praças e, atualmente, contemplava 18 cidades e 26 complexos.
Para quem pensava que a capital sergipana só tinha plateia para o cinemão, os projetos coadjuvantes que Roberto Nunes implementou- como a “Virada Cinematográfica” e a “Sessão Notívagos”- só mostrava o contrário. Quanto mais cinema, melhor. E foi assim, durante sete anos. 


“Bubble”, “A Criança”, “A Culpa é do Fidel”, “Marie –Jo e Seus Dois Amores”, “O Fantástico Sr. Raposo”, “O Anti-cristo”, “Sede de Sangue”, “Incêndios”, “O Garoto da Bicicleta”, “O Homem que Grita”, “Amor”, “Moonrise Kingdom” , A Vida dos Outros”, “Infância Roubada”, “A Casa de Alice”, “A Via Láctea”, “Hércules 56”, “Vermelho como o Céu”, “O Pequeno Italiano”, “Amor”, “Pelo Malo” foram algumas das pérolas que tivemos a oportunidade de assistir e debater. 


Mas algumas sessões foram emblemáticas como a do filme “O Violino” de Francisco Vargas, já que só existia uma cópia em 35 mm, circulando no Brasil e não foi fácil para Roberto Nunes consegui-la; “Do Começo ao Fim” de Aluizio Abranches, que teve sessões bem concorridas, sendo um dos filmes com maior número de espectadores do projeto, ainda que seja um desastre cinematográfico; a do filme francês “O Papel da Sua Vida” de François Favrat que teve direito até ao alarme de incêndio tocando, indevidamente, no meio da exibição; “Incêndios” de Denis Villeneuve que foi exibido no 4º aniversário do projeto, na sala 8 (a maior do complexo Jardins) e deixou muita gente “grudada” na poltrona após os créditos finais. 


A troca de ideias podia ser com os frequentadores assíduos, logo após a sessão, ou com os convidados que o produtor trazia, a exemplo dos diretores Lina Chamie, Silvio Da-Rin e Vladimir Carvalho. Num dos últimos projetos que Roberto Nunes havia iniciado -“Conversas Cine Cult”- ele trouxe a Aracaju, em janeiro, o premiado diretor de “O Som ao Redor”, Kléber Mendonça Filho. Para esse segundo semestre, ele já havia sinalizado a possibilidade de trazer para cá, o cineasta Júlio Bressane.


Os últimos filmes em cartaz no Cine Cult Aracaju foram “Inch'Allah" de Anaïs Barbeau-Lavalette e “Que Estranho Chamar-se Federico!” de Ettore Scola. Torço para que a rede de multiplex não acabe com o projeto que deu tão certo e arregimentou um novo público frequentador das salas de cinema.


Notívago de “carteirinha”, workaholic, mal humorado prá uns e boa praça para outros, apreciador das obras de Bresson, Polanski e Bergman e leitor do sergipano Francisco Dantas,  Roberto Nunes deverá ser sepultado na cidade de Bauru (SP).



Nenhum comentário: