quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Mar Está Prá Peixe





O sergipano José Martins Ribeiro Nunes, o Zé Peixe, faleceu no dia 26 de abril de 2012. Figura lendária em Sergipe, o prático ficou conhecido nacionalmente, por conduzir, a nado, embarcações que saíam e entravam em Aracaju, pelo rio Sergipe. Ao longo de seis décadas de vida no mar e no rio, Zé Peixe salvou vidas e seus feitos heróicos foram reconhecidos com medalhas e homenagens. Morreu aos 85 anos, saindo da praticagem, apenas três anos antes, por conta de sua saúde frágil, em decorrência do Mal de Alzheimer.

Mas a persona emblemática ainda povoa o imaginário de muitos sergipanos e curiosos que ouvem falar pela primeira vez de seus feitos. Como era o dia a dia de Zé Peixe quando não estava no seu habitat natural- o mar? Que outras habilidades possuía o exímio nadador? Para estimular ainda mais esse imaginário, o Trotamundos Coletivo traz a público, amanhã, a partir das 19h, na Galeria do SESC/centro, a exposição “Marés: Um Olhar Sobre Zé Peixe”. O projeto, que tem como foco o universo simbólico elaborado em torno da figura de Zé Peixe e seu desdobramento na construção da memória, vai ser apresentado por meio do diálogo entre estímulos visuais, sonoros e textuais.

Para isso a exposição contará com o entrelaçamento narrativo de 34 fotografias, quatro áudios, uma seleção de reportagens publicadas na imprensa e desenhos do próprio Zé Peixe. As imagens selecionadas integram as séries Liberdade, Maresia, Encontro e Ressaca que serão apresentadas em duas fases, chamadas pelo coletivo de marés. A primeira delas celebra a personagem e seus afetos e está caracterizada pelas séries Liberdade e Encontro, a serem exibidas de 11 a 30 de abril. A segunda, que dialoga com o  adeus e os vestígios do espaço por meio das séries Maresia e Ressaca, será aberta ao público entre os dias 8 e 22 de maio.

Ana Lira, uma das integrantes do Trotamundos Coletivo, juntamente com Marcelinho Hora, Alejandro Zambrana e Arnon Gonçalves, explica como se deu a divisão da exposição em dois momentos. “A primeira parte está relacionada ao período em que Zé Peixe ainda estava vivo. Os registros estão marcados pela sua presença física e a  materialidade dos objetos que ele produzia, sobretudo desenhos. Já na segunda parte da exposição, o coletivo discute a perda, a ausência e a materialidade está mais rarefeita”.

As imagens da série Liberdade mostram os resultados da percepção dos integrantes acerca da persona de Zé Peixe. Ela traz retratos pessoais, que não necessariamente são fotografias do homem, mas uma representação de como sua figura e sua filosofia ficaram marcadas na vida dos fotógrafos do coletivo. Encontro, por sua vez, aborda as relações afetivas que permearam a vida do prático: as suas paixões cotidianas, as relações de família, as memórias e a visão de quem o conheceu.

Maresia traz uma reflexão a respeito do espaço habitado por Zé Peixe: o mar, a cidade, a casa, os barcos, as rotas das águas. Ressaca, a última série da exposição, é uma conversa acerca da partida. Suas imagens refletem sobre a ausência e os significados dados ao mito de Zé Peixe após o seu falecimento em 26 abril de 2012.

Além das imagens, os quatro áudios que integram a exposição serão usados para evocar imagens no público. Que imagens vêm à  tona, dentro de cada pessoa, a partir de um estímulo sonoro que diz respeito ao universo de Zé Peixe? O que cada um de nós pode oferecer de memória visual para o universo narrativo em torno do personagem?

Durante a exposição, os visitantes serão incentivados a darem um retorno dessas imagens evocadas por meio dos áudios para o e-mail olharmares@gmail.com. As pessoas podem fotografar, desenhar, pintar, fazer colagens ou qualquer representação visual que dê conta do que elas viram ao ouvir os áudios e enviar por e-mail. Essas imagens serão colocadas no blog do trabalho, com o devido crédito e um depoimento do visitante (se assim ele desejar).

Os textos publicados na imprensa e selecionados para a mostra trazem um exemplo da interpretação da figura de Zé Peixe, ao longo de sua trajetória. O jornalismo também é  uma forma de criar representações, seus relatos evocam memórias, sedimentam estereótipos e ajudam a configurar uma imagem em torno de um mito.

“A nossa expectativa é que o público comece a olhar para esses mitos, como Zé Peixe, por um outro paradigma que não o biográfico. Aliás, a exposição não tem esse caráter. A partir dos áudios e das imagens na exposição, os visitantes serão estimulados a desenvolver ideias acerca de Zé Peixe”, explica a fotógrafa.

Café Cultural e Palestra- A programação da exposição “Marés: Um Olhar Sobre Zé Peixe” também contará com um Café Cultural, no dia 8 de maio de 2013, no SESC/centro. O evento, que coincide com a abertura da segunda parte da exposição,  contará com a presença dos fotógrafos do Trotamundos para um debate aberto  com entrada gratuita. Nesse encontro serão discutidos os processos criativos e os diálogos que geraram a exposição.

Formado por Alejandro Zambrana, Ana Lira, Arnon Gonçalves e Marcelinho Hora, o Trotamundos vem desenvolvendo projetos nas áreas de produção fotográfica, estudo de linguagem, formação e discussão da fotografia em Sergipe, desde 2010.

O coletivo desenvolve ações que estão sendo reconhecidas por colaborar com a formação de um público interessado em fotografia, promover diálogo entre gerações diferenciadas de profissionais da área, incentivar um olhar sobre a memória e a identidade cultural do estado, além de desenvolver atividades tanto em espaços de arte quanto em ambientes públicos.

Entre seus principais projetos estão o Conversando Fotografia, Mercado 24h, Quem Faz a Foto? e a documentação fotográfica do lançamento do disco O Circo Singular, de Patrícia Polayne. O Trotamundos teve trabalhos publicados na revista Aracaju Magazine, no site da revista + Soma e vem participando de diversos encontros no país, como o Encontro Norte Nordeste de Produtores da Fotografia, realizado em Belém, o Onda Cidadã, no Itaú Cultural, em São Paulo, e na primeira edição do Pequeno Encontro da Fotografia, realizado em Olinda, Pernambuco.

A Galeria do SESC/centro localiza-se à Rua Dom José Thomaz, 235. O horário de visitação é de segunda a sexta-feira, das 10 às 19h. Acesso gratuito. Mais informações pelo telefone (79) 3216-2753 ou pelo e-mail: sescgaleria@gmail.com

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