quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Refletindo com Verônica



Será difícil, o espectador, não se identificar, pelo menos uma vez que seja, com as incertezas e angústias vividas por Verônica (Hermila Guedes), em “Era Uma Vez Eu, Verônica” de Marcelo Gomes. O filme, do mesmo cineasta de “Cinema, Aspirinas e Urubus”, acompanha o cotidiano da psiquiatra, recém-formada, no consultório de um hospital público, bem como suas relações afetivas com o pai José Maria (W. J. Solha) e o namorado da vez, Gustavo (João Miguel).

Para refletir sobre a vida, seu futuro, anseios, conquistas e perdas, Verônica refugia-se nas areias de uma praia pernambucana. O diretor permite que a personagem compartilhe seus pensamentos com o espectador, através do recurso da voz em off. À medida que Verônica escreve em seu diário, revela-se uma mulher frágil, em crise. Mas em nenhum momento, a narrativa descamba para o óbvio.

A película conquista o público, pelo poder de identificação deste, com a personagem título. Mérito de Hermila Guedes que está iluminada aqui, tanto quanto Suely em “O Céu de Suely”. É impressionante como mesmo numa interpretação mais contida e intimista, se comparada ao do papel que a catapultou para o cinema e TV, ela consegue convencer o público dos dramas e frustrações vividos por Verônica.

“Era Uma Vez Eu Verônica”, porém, aborda outras questões em voga na cinematografia contemporânea nacional, como a especulação imobiliária nos grandes centros e o poder de liberdade das personagens femininas, que não se enquadram em papéis estereotipados.

Talvez pela ousadia da narrativa, direção segura de Gomes e das interpretações de Hermila Guedes e do elenco de apoio (incluindo a participação da cantora Karina Buhr), é que o filme conquistou tantos Candangos (no total cinco prêmios) no Festival de Brasília do ano passado. É o cinema pernambucano mostrando que veio, mesmo, para ficar!! 




O filme entra em cartaz nesta sexta-feia, no Cine Cult Jardins, diariamente, às 14h.

2 comentários:

Robson Viana disse...

O filme me instigou muito. Como considerar Verônica? Seria válida uma leitura psicanálitica/freudiana de sua conduta/angústia (aquela presença absorvente do pai)? Seria ela uma personagem típica da atualidade social (e cinematográfica) brasileira: o sujeito que cresceu mas não sabe qual destino seguir, que vocação assumir - em consonância com um Brasil também sem rumo firme? E o que seria aquele mar e aquele festejo carnavalesco: uma continuidade do mar glauberiano-cinema-novista (re-atualização do utópico binômio "sertão-mar") e do transe também glauberiano-cinema-novista (acho que estou sob o efeito de Lúcia Nagib e o seu "A Utopia no Cinema Brasileiro")? "Era uma vez eu, Verônica" permanece na minha cabeça, não termina, dá muito o que pensar...

Bangalô Cult disse...

O cinema pernambucano está sendo a salvação do cinema nacional da atualidade.
Abs