sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O MAL QUE A TV FAZ

De férias pelo Brasil, eis que minha amiga Marguerite Durrel, depois de meses, decide dar "o ar da graça", escrevendo uma resenha  do livro "O Vidiota" de Jerzy Kosinsky, que foi adaptado para o cinema como "Muito Além do Jardim". Logo abaixo, mais um texto da amiga colaboradora.
 
 O MAL QUE A TV FAZ

Tive uma infância e adolescência repletas de restrições quanto ao acesso à televisão. Naquela época, os pais, pelo menos os meus, estabeleciam regras e horários para tudo. Havia hora para estudar, brincar, dormir e, principalmente, para assistir à televisão. Para eles, mais de duas horas em frente à TV seria o suficiente para tornar qualquer seu humano um imbecil de carteirinha, incapaz de pensar e ter ideias próprias.

Porém, como sempre fui fissurada em televisão e sofro de uma insônia congênita, lembro-me de levantar da cama, pé ante pé, e me prostrar diante da TV para assistir às novelas das 22 h (Saramandaia, Gabriela, O Bem-Amado), bem como aos filmes da Sessão Coruja. Isso, obviamente, às escondidas dos meus pais.

Talvez esse seja o motivo de me sentir culpada, até hoje, ao me refestelar no sofá e me empanturrar de seriados norte-americanos como Two and a Half Man, The Big Bang Theory e comédias românticas absolutamente insípidas e inodoras tipo “Feito Cães e Gatos”.

E é por essas e outras que decidi desligar o controle remoto da TV em 2013. Coincidentemente, mexendo em alguns livros antigos me deparei com um pequeno exemplar de 112 páginas chamado "O Vidiota" do escritor polonês Jerzy Kosinsk, que trata exatamente disso, do poder que a televisão exerce sobre as pessoas.

Imediatamente, comecei a leitura e só parei ao chegar na última página. A história é absorvente e ao mesmo tempo surreal. O protagonista Chance (oportunidade, em inglês) é um órfão analfabeto e sem registro de nascimento ou qualquer outro documento que possa identificá-lo. Vive na residência de seu protetor, denominado apenas de “O Velho”, onde desempenha as atividades de jardineiro. Chance nunca saiu de casa e quando não está cuidando do jardim vê televisão.

Com a morte do seu protetor, Chance é obrigado a abandonar a casa do “Velho”. Logo ao sair da residência, é atropelado pelo motorista da Sra. Elizabeth Eve (EE), esposa do Sr. Benjamin Rand, um grande empresário que se encontra bastante enfermo. A Sra. EE, preocupada com a saúde de Chance leva-o para a sua mansão a fim de que o médico de seu marido possa examiná-lo.

A partir daí, está dada a largada para toda sorte de trapalhadas e equívocos. Chance, o Jardineiro, torna-se um homem de negócios famoso e conhecido em todo o país. Ele vê o mundo a partir da sua condição de jardineiro e de acordo com o que absorve da TV, mas suas respostas lacônicas e simplórias são percebidas como sinal de sabedoria e seus comentários como belas metáforas.

Este livro, além de saboroso, é um verdadeiro tratado sobre o poder da televisão e a sua capacidade de produzir “celebridades” e hipnotizar o público. Não deixa de ser também uma crítica mordaz à sociedade de massas. E, apesar de ter sido publicado na década de 70, continua atualíssimo.

"O Vidiota" foi adaptado para o cinema em 1979, com o título de "Muito Além do Jardim", cujo roteiro foi escrito pelo próprio  Jerzy Kosinski e dirigido por Hal Ashby. O filme ganhou vários prêmios, dentre eles, o Globo de Ouro de melhor ator de comédia em 1980 ( Peter Sellers). Ganhou também o Oscar de melhor ator coadjuvante (Melvyn Douglas) em 1980 e venceu o Bafta em 1981 na categoria de melhor roteiro.

Jorzy Korzinsk nasceu na Polônia (Lodz) em 1933 e naturalizou-se americano em 1965. Teve uma sólida carreira acadêmica em Ciências Sociais e História. Além de escritor e roteirista premiado atuou no filme Reds, de Warren Beatty. Morreu em Nova York, em maio de 1991.

Nenhum comentário: