Desde que vi estampada na capa da Revista Época (que está nas bancas), a foto do cantor Michel Teló com a chamada "Ele Ainda Vai Te Pegar", decidi dar uma conferida no youtube para ver quem era esse "fenômeno" paranaense. Afinal, o cara tinha conseguido matéria com 10 páginas na revista do grupo Globo (que não quer dizer muita coisa), mas com um currículo de 220 shows no ano, com média de 20 mil pessoas, não contive a curiosidade.
A decepção ao ouvi-lo foi semelhante ao escutar pela primeira vez "Tchubaruba", sucesso na rede da cantora de então 15 anos, Mallu Magalhães. Naquela ocasião, foi uma matéria na Revista BRAVO (de oito páginas) que me levou a conhecer o fenômeno adolescente. Não gostei da voz suave de Magalhães, não achei nada de extraordinário em suas canções, mas a sensação foi menos traumática do que senti hoje à tarde ao ouvir o hit "Ai, Se Eu Te Pego".
Nem vem que não tem Teló. Você pode até ludibriar a massa (inclusive estrangeira), mas a mim...que é isso rapaz?! E ainda levar a fama de inventor do batidão (mistura do forró com o vanerão gaúcho), como se isso fosse a apoteose da nova música "popaleresca" brasileira ? Estaria a massa sofrendo de uma surdez contagiante ?
O alívio veio algumas horas depois, quando me deparei com o Programa Ensaio da TV Cultura. Pensei que este programa com o gaúcho Filipe Catto já tivesse ido ao ar e eu, perdido. Sorte minha, que não. Já era para eu ter comentado sobre ele, aqui no blog, há mais ou menos dois meses, quando ganhei seu disco de estreia, "Folêgo". Eis que é chegada a hora.
Fiquei encantada com a personalidade do rapaz de 23 anos, que desde pequeno acompanhava o pai Oscar (também cantor), em apresentações por Porto Alegre. E depois de conferir uns vídeos dele postados no youtube, veio aquele misto de encantamento, de gozo, por ouvir um novo intérprete brasileiro surgindo com extrema qualidade.
Algumas críticas foram logo comparando-o a Ney Matogrosso, principalmente, pelo timbre de voz. Em muitos momentos, no entanto, só consigo enxergá-lo como Elis Regina, por conta da sua maneira de se entregar às canções. O próprio Catto, no Programa Ensaio, revelou que "Elis é minha professora de canto". Porém, não acontece nada de forma deliberada, calculada. Filipe é pura intuição à flor da pele e de uma autenticidade cativante.
Fã também de Janis Joplin, Maysa, Maria Bethânia, P.J. Harvey e Nick Cave, o cantor natural de Lajeado, apresentou algumas de suas melhores composições, como "Adoração" (a que mais aprecio), "Saga", "Crime Passional" e "Juro Por Deus", além das regravações de "Ave de Prata" (Zé Ramalho), "Rima Rica/Frase Feita" de Nei Lisboa e "Garçom" de Reginaldo Rossi.
O ponto alto, no entanto, foi sua interpretação comovente de "Luz Negra" de Nelson Cavaquinho (com um arranjo singularíssimo). Filipe Catto não economizou elogios ao compositor carioca, morto em 1986, e falou de suas preferências musicais, como samba, música latina e boleros. Para ele, não existe música brega. "Existe aquela música que me toca, emociona, e outras que apesar de lindas, não me emocionam". "Garçom" de Reginaldo Rossi está no primeiro grupo para Catto e basta comprovar isso, através do arranjo inspirado que a canção ganhou no disco de estreia do cantor gaúcho.
Não sei se um dia, Filipe Catto virará um fenômeno nacional, mas mesmo que isso não aconteça, ficarei aguçando meu aparelho auditivo com talentos como ele e torcendo para que, em breve, possa conferir sua apresentação ao vivo. Seja lá onde for.
Legenda da Foto: O compositor e cantor Filipe Catto foi uma das gratas surpresas do ano passado no cenário musical brasileiro