quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

José Caldas flagra o "Brasil Profundo"


O fotógrafo sergipano-carioca José Caldas irá lançar no próximo dia 18 de janeiro, às 20h, na Sociedade Semear (rua Vila Cristina, 148), seus dois mais recentes livros “Retratos do Brasil Profundo” e “Minas: Estado de Espírito”, ambos editados pela Olhares, editora de pouco mais de três anos de existência, que investe em publicações fotográficas.

Enquanto o primeiro livro reúne 82 retratos de anônimos espalhados pelo território brasileiro- segundo o fotógrafo, “um país ainda pouco conhecido imageticamente”-, a segunda publicação, revela uma Minas Gerais especialmente encantadora, ora por conta da deslumbrante paisagem, ora por conta da áurea das pessoas.

“Foi muito gratificante fazer esse livro sobre Minas, porque eu fotografo o Estado, desde o início da minha carreira, em 1989. Para compor a publicação, viajei durante dois meses e meio (de final de maio a início de agosto de 2010), pegando um frio violento, mas no final valeu muito a pena. A ideia do livro surgiu em 2002, quando eu estava envolvido no livro sobre a Serra da Mantiqueira. Flagrei uma cena muito bacana, que está no livro, por sinal, que foi o reencontro de uma dupla de violeiros, que não tocavam juntos há 17 anos. A partir dessa situação e revendo meu material sobre o Estado, vi que podia sair um livro em que não são os cartões-postais mineiros o que há de mais importante a ser registrado, mas a essência de algo muito relativo, porque tudo que está no livro é Minas”, conta.

Já o livro “Retratos do Brasil Profundo”, segundo Caldas, foi uma ideia do editor Otávio Nazareth. Tomando conhecimento do vasto material que o amigo possuía, Nazareth sugeriu que ele fizesse um apanhado dos anônimos clicados ao longo das duas últimas décadas e reunisse num livro.
“Foi difícil editar tanto material. São muitas fotos ao longo de muitos anos de viagens e a maioria delas, quando saí para fotografar, não fui com o intuito de fazer retratos. Agora, estes sempre estiveram presentes em meu trabalho, porque mesmo que eu fosse fotografar a natureza, por exemplo, em cada local que eu chegava, eu terminava clicando as pessoas, fazendo retratos simples, aproveitando o momento de forma mais natural possível. Sempre procurei influenciar o mínimo na cena, não mexer com a energia das pessoas. A escolha foi difícil também, por conta da maioria do material ser em cromo-  no ‘Retratos...’ só tem três fotos em digital- e eu não estar com muita coisa na época, escaneada. Sem dúvida, um árduo trabalho de edição”, explica.

Ao folhear “Retratos do Brasil Profundo”, que traz uma entrevista bem completa do fotógrafo concedida a Otávio Nazareth, em Cordisburgo, terra de Guimarães Rosa, o leitor terá dificuldades em escolher qual o melhor registro. Para uns, podem ser as cenas captadas em Barra do Rio Grande na Bahia- lugar que Caldas tem especial carinho- ou as que o fotógrafo conseguiu flagrar com a luz deslumbrante do Mercado Thales Ferraz em Aracaju. Para outros, a escolha pode ficar entre os povos indígenas do Amazonas ou os mineiros de localidades como Santana do Riacho e Januária.

Independente de qual seja a escolha do leitor, uma foto que José Caldas tem predileção neste livro é a do casal que posou para ele, em Barra do Afunda, em Januária (MG) no ano de 1996. Por este registro, ele ganhou o Milks International 2000, sob o júri do consagrado fotógrafo Elliot Erwitt, ex-presidente da Magnum.

“Eu estava subindo o Rio São Francisco de barco e numas das paradas, fui convidado pelo casal a entrar em sua casa e batemos um papo de quase duas horas. Foi um momento sublime, que fez com que eu pensasse em largar tudo e ficar naquele lugar, pelo resto da vida. Fotografei os dois encostados na parede do casebre onde moravam sob uma foto -daquelas pintadas antigamente- da dupla na época do casamento. Como o casal faria em breve Bodas de Ouro, fiz questão de enviar a foto para eles depois”, diz.

José Caldas já possui 11 livros lançados individualmente e, juntamente com outros fotógrafos, somam-se mais seis. Para começar a se inteirar da riqueza do seu trabalho, indico o livro "Oparapitinga Rio São Francisco", lançado em Aracaju, em 2002.
 
Os livros que serão comercializados na noite de autógrafos, na próxima terça-feira, na Sociedade Semear, terão preço estimado em R$ 50 (cada).

Texto: Suyene Correia

Fotos: José Caldas
 

Nenhum comentário: