sábado, 11 de dezembro de 2010

Pablo Trapero "Tarantinesco"


Ontem, foi a abertura da 5a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, que de 08 a 19 de dezembro, passará por 20 capitais brasileiras, levando curtas e longas-metragens com abordagem sobre a valorização do idoso, garantia dos direitos da criança e do adolescente, diversidade sexual, entre outros. 

Pela primeira vez, a mostra chega a Sergipe, com exibições gratuitas, no Cinemark Jardins (às 11h e 15h) e Palácio-Museu Olímpio Campos (19h e 21h), sendo uma realização da Secretaria de Direitos Humanos com produção da Cinemateca Brasileira e produção local da Casa Curta-SE.

O filme que deu o pontapé inicial à mostra foi o argentino "Abutres" de Pablo Trapero com o ator Ricardo Darín. Com exibição marcada para às 19h, no Cinemark, o filme 'tarantinesco' de Trapero só foi exibido uma hora depois, tendo os mais de 100 espectadores que chegaram cedo para garantir o ingresso, que esperar por 35 minutos na fila, num hall onde o ar-condicionado não funcionava nem 10 % de sua capacidade.

Como se não bastasse a espera, por conta de atraso do técnico de projeção da mostra (segundo informações seguríssimas), ainda tivemos que ouvir aquele blá-blá-blá de praxe dos representantes do governo federal, estadual e outras instituições apoiadoras (será que não basta a gente ver pelas logomarcas estampadas no catálogo quem está engajado com a causa ?).

Iniciada a sessão em formato DVCAM (é bom frisar), comecei logo a comparar a co-produção Argentina, Chile, França e Coréia do Sul, que esse ano é o representante da Argentina para o Oscar de Filme Estrangeiro (assim como "Lula" é o representante brasileiro) ao vencedor dessa categoria, o argentino "O Segredo dos Seus Olhos".

Apesar desse último eu ter gostado muito, mas não a ponto de achá-lo melhor que "A Fita Branca", percebi que o filme de Trapero está longe de abocanhar a estatueta dourada. Isso porque apesar do tema instigante, o filme tem ritmo um tanto maçante, a partir de um dado momento as situações tornam-se óbvias e o final, que poderia ser uma surpresa, transforma-se num banho de sangue tarantinesco no pior estilo.

Trapero tinha tudo para "arrebentar" mais uma vez, como fez com "Leonera", só que preferiu seguir o caminho que Spielberg tomou ao realizar "A.I.- Inteligência Artificial", e transformou  uma possível obra-prima, num pastiche.  A trama gira em torno da máfia que envolve advogados, médicos e as próprias vítimas de acidentes de trânsito no que tange ao lucro em cima das indenizações cobradas às seguradoras.

Um desses advogados Sosa (Darín), envolvido até a "tampa" na máfia das indenizações, decide mudar de vida quando conhece a médica Luján (Martina Gusman). Só que não será tão fácil sair desse emaranhado de falcatruas e até o 'The End', perseguições, pancadaria e clichês do gênero policial americano irão inundar a tela.

Se fosse só isso, seria até aceitável, mas quando o filme atinge o seu clímax, faltando pouco mais de 10 minutos para o fim da projeção, a inspiração dos filmes de Quentin Tarantino e Robert Rodríguez fica patente; mas no pior sentido. Sosa e Luján sob um manto invisível da invulnerabilidade conseguem se desvencilhar das situações mais bizarras e o que poderia gerar um sobressalto no espectador, faz com que ele dê gargalhadas da desgraça alheia.

Texto: Suyene Correia

Legenda da Foto:  Luján (Gusman) e Sosa (Darín): um encontro que vai mudar radicalmente suas vidas 

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