quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Hora das Cantorias

Nesta sexta-feira, a partir das 21h, no antigo restaurante O Paió, os cantadores Dinho Oliveira, Joaquim Antônio, Josino Medina, Muskito, Nino Karvan, Paulinho Jequié e Sena irão apresentar um show recheado com suas poesias no projeto “Cantoria, Versos e Viola”. O grupo, à exceção do mineiro Josino Medina, já se conhecia desde a década de 90, através das cantorias realizadas pelo Movimento Popular e Histórico de Canudos.

Após um hiato de 12 anos, os amigos decidiram se reencontrar e comungar dos mesmos anseios: “o de cantar as coisas da gente simples, mas cheia de sabedoria”,  como diz Joaquim Ferreira, acordeonista do grupo Casaca de Couro e idealizador desse encontro. “No ano passado, recebi uma mensagem do Sena  pelo Orkut, sugerindo que fizéssemos uma cantoria. Este ano, antes dos festejos juninos terminarem, o Paulinho Jequié me escreveu dizendo que queria tocar aqui conosco e junto com isso, a produtora cultural, Rita Simone, disse que conhecia o Josino Medina e iria convidá-lo para esse encontro. Ele topou. Convidamos então, o Dinho, Muskito e o Nino Karvan para completar o grupo e agora, iremos fazer essa apresentação, reunindo cantadores de vários Estados”, conta.

É verdade. Apesar de morarem há muito tempo em Sergipe, Joaquim é matogrossense, Muskito é alagoano e Sena é cearense. Juntam-se a eles, os baianos Paulinho Jequié e Dinho Oliveira, o mineiro Josino Medina e o único sergipano Nino Karvan. A expectativa é grande desse encontro, já que não se faz uma cantoria como essa por aqui, há um bom tempo. Não será apenas um desejo atendido para os músicos, como também da platéia que se fará presente. “Muitos universitários, intelectuais, artesãos e um público alternativo já vinha me cobrando isso. Então, será uma boa oportunidade de nos confraternizarmos, de fazermos um intercâmbio com artistas de outras localidades e celebrarmos a música regional brasileira”, explica Joaquim.

Essa cantoria irá também revelar diferentes tons. De acordo com o maestro Muskito, autor do “Xaxado de Propriá”, existem dois tipos de viola no Brasil, que se diferenciam, basicamente, pela sua afinação. A primeira é a viola caipira de Minas e interior de São Paulo, como a de Josino Medina, que trabalha mais como um instrumento independente, não só acompanhando um cantor, mas também fazendo ponteios e música solo.
A segunda é a viola dos repentistas, que funciona como um tapete, um fundo, para inspirar o cantor nos versos. Ambas são violas, mas com características diferentes. O que estabelece a relação entre as duas músicas dessas violas é exatamente essa coisa do campo, de falar sobre o povo, de cantar a música do povo. 

Não só os cantadores estarão presentes na noite desta sexta-feira, no Paió, mas também os cordelistas, os artesãos, as catadoras de mangaba, de modo que será uma noite cultural bastante alternativa. “Muito da riqueza cultural do nosso país, vem do chamado ‘Brasil Profundo’ que engloba a região do sertão brasileiro (que começa no Ceará e termina no Norte de Minas Gerais). A ideia desse encontro é mostrar, por exemplo, as peculiaridades e semelhanças que há no trabalho desenvolvido pelo violeiro do Vale do Jequitinhonha, pelo violeiro de Vitória da Conquista  e pelo violeiro sergipano e também como a construção cultural independe do poder do Estado, oportunizando ao pessoal da nova geração o acesso a um produto musical dessa natureza ”, diz Rita Simone.

Somando-se à  programação da noite, o poeta popular João Brasileiro fará, na abertura, participação especial e, no encerramento, a banda Casaca de Couro apresentará um animado forró pé de serra.
O projeto que tem o apoio da Nossa Escola, SESC, Fundação Aperipê, Infonet e Casa do Artista é uma realização da Casaca de Couro Produções Artísticas. Os ingressos a R$ 10 estão à venda na Casa do Artista, Rua Laranjeiras, 190 - Centro. Mais informações pelo telefone 3042-9506 ou casacadecouro@infonet.com.br

Texto: Suyene Correia

Nenhum comentário: