segunda-feira, 29 de junho de 2009

"A Partida" mostra um cinema japonês com 'cara' de americano




Quando me referi acima sobre o fato de "A Partida" de Yojiro Takita ter uma 'cara' de filme americano, não quis depreciar o cinema oriental. Pelo contrário, afinal de contas, ainda há luz no fim do túnel e cinema feito na terra do Tio Sam sem ser apenas blockbuster.

Mas a comparação se faz pelo fato de o filme que venceu na categoria Melhor Filme Estrangeiro desse ano, batendo "Valsa com Bashir" e "Entre os Muros da Escola", ter uma boa narrativa e misturar humor com dramaticidade na medida certa. Apenas peca por ser convencional e pouco ousado, mas nada que seja suficiente para tirar o brilho desse filme que trata de perda, superação e reconciliação.

O personagem principal, Daigo Kobayashi (Masairo Motoki) é violoncelista, mas sua carreira de músico parece estar com os dias contados, quando a orquestra sinfônica que faz parte é desfeita. Sem dinheiro para pagar o caro instrumento que adquiriu recentemente, Daigo o vende e entra em crise existencial, decidindo voltar para a terra natal, depois de anos de ausência.

Retorna à casa dos pais (sendo que seu pai o abandonou ainda pequeno e sua mãe morrera há alguns anos) e inicia um novo capítulo na sua vida ao lado da jovem esposa Mika (Riyoko Hirosue) que o incentiva a arranjar um emprego.
Daigo atende a um anúncio de jornal, não sabendo ele, que iria se transformar em assistente de Shoei Sasaki (Tsutomu Yamasaki), preparador de cadáveres para o ritual familiar que antecede à cremação.

De início, Daigo hesita em aceitar o emprego, mas diante da boa remuneração, decide vencer o próprio preconceito frente à profissão e, a partir daí, é que o roteiro vai ganhando corpo, mostrando as relações interpessoais ora conturbadas entre Daigo e a esposa e um amigo de infância; ora amistosa entre ele e seu chefe, ou a dona da Casa de Banho do lugarejo.

Porém o mais difícil de superar é o trauma da infância, a separação do pai e a total falta de referência dele, após os seis anos de idade. A saudade mesclada com a mágoa é o desconforto que Daigo sente ao longo do filme e parece só chegar ao fim quando o reencontra.

O interessante é como o diretor soube fisgar o especatdor pelos sentidos- ora explorando a bela trilha assinada por Joe Hisaishi, ora explorando o visual através da lente de Takeshi Hamada- ao longo dos 120 minutos.

O filme é belo e emocionante. Há muito não sentia tanto prazer em chorar junto com metade da platéia. Queria revê-lo... Tomara que o Cine Cult me dê esta oportunidade.


Texto: Suyene Correia

Foto 1: Patrão e assistente conversam sobre o prazer de comer
Foto 2: Daigo em 'plena ação' em mais um funeral


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Simplesmente...Mike Leigh




Não sei se esse filme vai continuar em cartaz no Cinemark do Riomar, mas se ficar, não percam.

Estou me referindo à nova película do diretor Mike Leigh, intitulada "Simplesmente Feliz". Quando fiquei sabendo que a atriz Sally Hawkins tinha abocanhado o Urso de Prata em Berlim por sua interpretação, além do Globo de Ouro e o Satellite de Melhor Atriz em Comédia ou Musical, além dos prêmios dos críticos de Boston, Los Angeles, Nova York e São Francisco, não tive dúvidas em assisti-lo. Além do que, pelo simples fato de ter a assinatura de Mike Leigh ("Segredos e Mentiras", "O Segredo de Vera Drake", "Agora ou Nunca"), o filme para mim, torna-se obrigatório.

E dito e feito. Leigh acerta mais uma vez na direção, obtendo interpretações memoráveis tanto de Hawkins (Poppy), como de Eddie Marsan (o instrutor Scott), além de demonstrar destreza na concepção do roteiro (indicado ao Oscar da categoria de Roteiro Original).

A história, no entanto, não demonstra tanta densidade e peso quanto os seus filmes anteriores. Não digo que seja superficial, mas é que o caminho tomado pelo diretor, para mostrar as mazelas de certas relações humanas, agora se dá através do humor. O sempre bom humor de Poppy é que desconcerta o taciturno Scott, mas que de alguma forma o envolve também.

Acho que é o que acontece com o público que assiste a "Simplesmente Feliz". Algumas pessoas devem se sentir incomodadas e até, irritadas, com a forma nonsense com que essa balzaquiana leva a vida, no entanto, uma outra parcela (e nessa, me incluo) sai leve do cinema, envolvida com a percepção de mundo da protagonista.

Uma percepção de mundo mais otimista do que pessimista e de uma certa forma, defensiva. Por traz daquele pseudo atabalhoamento de Poppy, existe um receio de se machucar, uma cautela...mas é tudo muito sutil. Alguns só conseguirão enxergar o 'estilo Polyana' dela levar a vida, porém, é querer dar uma explicação forçada e simplista demais.

Depois de lidar com alguns problemas cotidianos (uma torção na coluna, o garoto briguento da sala de aula, a relação tempestuosa com a irmã grávida), Polly vai enfrentar seu maior desafio: o professor da autoescola, Scott. A cena em que eles discutem, revela a marca Mike Leigh.

É o momento em que o colorido humor de Polly que tomou conta da tela até então, é substituído por um sombrio e nebuloso mal estar. A música vibrante de Gary Yershon ("Topsy-Turvy") dá lugar aos brados do irado Scott e as angústias de um e de outro (por motivos distintos) vêm à tona.

Para não dizer que o filme é perfeito, ainda não entendi o encontro de Polly com o mendigo. Achei uma cena desnecessária. Contudo, se for para colocar isso na balança não pesa o suficientemente contra a ponto de estragar o filme.
Delicioso o final em aberto. Deliciosamente feliz. Simplesmente...Mike Leigh.

Texto: Suyene Correia
Foto 1: Scott e Polly duelam constantemente, cada um com suas armas (divulgação)
Foto 2: Polly e sua amiga Zoe (Alexis Zagerman) num passeio de fim de tarde (divulgação)


terça-feira, 23 de junho de 2009

Corrosão à Flor da Pele...




Delírio, desilusão, rejeição, loucura, superstição. Tudo isso e muito mais é possível encontrar de uma maneira bem peculiar- algo corrosiva- nos contos de "Cine Privê", o mais novo livro do sergipano Antônio Carlos Viana, que assim como "Aberto Está o Inferno" e "O Meio do Mundo e Outros Contos", sai pela Companhia das Letras.

Viana não se utiliza de subterfúgios, ao contar, por exemplo, o assassinato de uma mãe pelo filho em 'Duas Coxinhas e um Guaraná'. Quando o assunto é loucura, seja pelo surto repentino em 'Santana Quemo-Quemo' ou pelo delírio contínuo da personagem Darci em 'Darci Ouve Vozes', ele também demonstra destreza para envolver como ninguém o leitor, fazendo com que o mesmo não desgrude os olhos das páginas até o ponto final.

Sua crueza ao narrar a vida dura de Manuel em 'Cine Privê' ou a inocência exarcebada de 'Maria, filha de Maria' é alucinante e envolvente. Talvez seja essa a fórmula do seu sucesso dentro e fora das fronteiras sergipanas. Se tem dúvida, basta fazer uma pesquisa na internet, para ver o quanto o nome do sergipano foi mencionado na mídia nacional, nas últimas três semanas.

No dia do lançamento do livro (na sexta-feira passada), na Escariz do Shopping Jardins, uma legião de admiradores e alguns colegas escritores prestigiaram a noite de autógrafos. Entre estes, Francisco Dantas, Maria Lúcia Dal Farra e Wagner Ribeiro.

Quem ainda não teve a oportunidade de ler os 20 contos de "Cine Privê" saiba de antemão que terá uma ótima sessão de 'cinema literário'. Bom divertimento!!!!
Foto 1: Viana autografa livro para o escritor Francisco Dantas
Foto 2: Antônio Carlos e a poetisa Maria Lúcia Dal Farra

Texto e Fotos: Suyene Correia

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Quando ele descobriu que não mais era...

Galhardo acordou com um gosto meio azedo na boca, mas não sabia exatamente o porquê. Tentou lembrar o que havia comido na noite anterior, em vão. Como tinha tomado algumas doses de Dry Martini, achou que o teor alcoólico não tinha lhe caído bem. Porém, ele era acostumado a beber muito mais do que as sete doses e nada sentir.
Alguns minutos depois de ter tomado seu banho matinal, foi até a cozinha preparou um café com leite (bem mais leite que café) e ligou a TV antes de ir trabalhar. Foi aí, que um turbilhão de lembranças tomou conta de sua mente laboriosa. No telejornal matutino, repetia-se a mesma notícia que tinha saído em destaque, ontem à noite, no horário nobre: "STF decide que diploma de jornalista não é obrigatório".
Galhardo havia ficado tão transtornado com a decisão dos SUPREMOS ministros, que decidiu 'encher' a cara, moderadamente, para esquecer daquela realidade infeliz. Ele tinha se formado em Comunicação Social- Habilitação em Jornalismo há 10 anos e agora, estava prestes a ser promovido a editor do Caderno Cultural. Sua promoção, no entanto, talvez não viesse mais.
Não sabia qual seria seu futuro naquela profissão já pouco valorizada com o diploma de nível superior e, agora, completamente desqualificada por oito ministros que entre outras coisas, compararam o ato de informar adequadamente à população, ao de cozer e coser.
Mas ele não sabia cozinhar e nem costurar. Seu faro para encontrar ' um furo jornalístico ' é do que ele mais se orgulhava. O feeling natural ajudava muito nesse aspecto, contudo foi na universidade que ele aprendeu as regras corretas de como construir um texto jornalístico de forma clara, direta e ética. As fontes que conseguia no dia-a-dia, ninguém mais tinha naquela cidade de quase 600 mil habitantes.
Era um cara reconhecido no meio artístico e também pelos colegas de outros diários concorrentes. Apesar dessa decisão, no entanto, não deixaria de ser a pessoa que sempre foi: prestativa, empenhada, orgulhosa da profissão que abraçou sem medo de ser feliz.
Ficou pensando até se ia trabalhar naquela manhã ou ficaria inerte em casa. Decidiu erguer a cabeça e seguir em direção à empresa que trabalhava há sete anos e esperar pelo pior.
Talvez não ser mais promovido. Na pior das hipóteses, ter seu salário diminuído ou até mesmo ser demitido e substituído por algum semi-analfabeto puxa-saco do patrão.
Como morava há 1 km da redação, fazia o trajeto sempre a pé, observando o movimento do centro urbano e colhendo por osmose estimulos visuais e sonoros que poderiam ser mais tarde traduzidos em palavras, no papel jornal.
Faltando duas quadras para chegar ao seu destino- esse que na maioria das vezes, a gente não escolhe- Galhardo foi abordado por uma jovem que segurava uma prancheta e empunhava uma caneta. Ela estava fazendo uma daquelas pesquisas de opinião e ele decidiu contribuir com parcos 15 minutos.
Quando chegou porém na questão: qual nível escolar que possui? Galhardo chegou à conclusão de que apesar de ter passado quatro anos numa Universidade Federal e ter investido numa Pós-Graduação Particular na sua área de atuação, ele possuía uma profissão de fato, mas não de direito.
Ele estava paralisado diante da moça, olhando o questionário e sem saber o que responder. Descobriu que o que vivera nos últimos 10 anos era uma farsa. Ou pelo menos, era o que pensava ser os SUPREMOS ministros. Descobriu que não mais era...
Texto: Suyene Correia

terça-feira, 9 de junho de 2009

Concurso de poesias tem prêmio de R$ 9 mil

Terminam no próximo dia 30 de junho (terça-feira) as inscrições para o maior concurso de poesias da internet brasileira, Talentos, que vai distribuir R$ 9 mil em prêmios em dinheiro aos primeiros colocados e ainda publicar em livro os 70 melhores trabalhos.
O concurso é promovido por BrasilWiki!, site de jornalismo colaborativo que está no ar desde outubro de 2006.
Os trabalhos inscritos em Talentos não precisam ser, necessariamente, inéditos, e serão julgados por um corpo de seis jurados, todos eles ligados ao mundo das letras. Na medida em que são inscritas, as poesias são avaliadas, também, pelos internautas, que podem comentar e dar notas aos trabalhos. Essas notas serão compostas às dos jurados para definir a média final de cada trabalho, conforme o regulamento do concurso.
As inscrições em Talentos permitem a publicação de duas poesias. O site pode ser acessado em www.talentos.wiki.br.

Texto: Divulgação

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Para o Imbuaça, "O Mundo Tá Virado..."














Em "O Mundo Tá Virado, Tá no Vai ou não Vai. Uma Banda Pendurada, a Outra em Breve Cai”, - o novo espetáculo do Grupo Imbuaça- vemos uma crítica bem humorada à cultura de massa, ao consumo exagerado e ao capitalismo selvagem, através do cordel.


Foi juntando fragmentos dessa literatura popular, que o diretor Iradilson Bispo - que também assina o belo figurino e a trilha sonora- compôs um universo povoado de personagens da Comédia Dell' Arte (será que estou 'viajando' nessa alusão?) e do mundo contemporâneo.


Os primeiros surgem no início da peça hipnotizando logo de cara a platéia - que se encontra em cima do palco, distribuída em cadeiras e arquibancadas- com uma rica indumentária, bem evidenciada pela iluminação. Cantam, fazem as honras da casa e num primeiro ato, anunciam mais ou menos o que está por vir.


A partir de então, o humor calcado em tipos populares toma conta da cena, como é o caso do religioso que juntamente com o seu filho George Washington tenta persuadir as pessoas a contribuírem com algum trocado para uma causa nobre; o vendedor de CD/DVD Pirata de Filmes Pornôs que a todo custo tenta convencer o público de que seus produtos são os melhores; o representante picareta de produtos milagrosos, seja na linha de cosméticos, seja na linha dos comestíveis que tenta convencer uma dona de casa, viciada em Ana Maria Braga, a consumir seus "produtos mágicos", entre outros.


É importante chamar a atenção para o fato de que a interatividade com a platéia é condição sine qua non para o sucesso do espetáculo. O próprio Lindolfo Amaral, um dos fundadores do Imbuaça, me confidenciou que a estreia em Aracaju, no Teatro Tobias Barreto, no dia 22 de maio, teve uma receptividade fria dos espectadores, bem diferente do que aconteceu em na capital gaúcha.


No entanto, no dia 30, parece que o público estava mais animado e achei o resultado do espetáculo para a sua quinta apresentação ( eles mostraram esse espetáculo em três ocasiões no 1º Festival Nacional de Teatro de Rua de Porto Alegre em abril passado) acima da média, embora a peça não consiga segurar o riso do público initerruptamente. Há altos e baixos, tanto por conta da interpretação de alguns jovens atores, como também pela demasiada duração de algumas esquetes.


Destaco o trabalho do ator Carlos Wilker que interpreta George Washington , além da experiência de Lindolfo Amaral, Isabel Santos, Manoel Cerqueira e Rita Maia. O legal é ver o elenco se renovando sobretudo com atores que participaram do Projeto "Nosso Palco é a Rua", desenvolvido pelo Grupo Imbuaça.


O Imbuaça continua no caminho certo. Só espero que, em breve, eles se apresentem novamente com esse "Mundo Tá Virado" e que não deixem "A Banda Cair".


Texto e Fotos: Suyene Correia