quinta-feira, 25 de junho de 2009

Simplesmente...Mike Leigh




Não sei se esse filme vai continuar em cartaz no Cinemark do Riomar, mas se ficar, não percam.

Estou me referindo à nova película do diretor Mike Leigh, intitulada "Simplesmente Feliz". Quando fiquei sabendo que a atriz Sally Hawkins tinha abocanhado o Urso de Prata em Berlim por sua interpretação, além do Globo de Ouro e o Satellite de Melhor Atriz em Comédia ou Musical, além dos prêmios dos críticos de Boston, Los Angeles, Nova York e São Francisco, não tive dúvidas em assisti-lo. Além do que, pelo simples fato de ter a assinatura de Mike Leigh ("Segredos e Mentiras", "O Segredo de Vera Drake", "Agora ou Nunca"), o filme para mim, torna-se obrigatório.

E dito e feito. Leigh acerta mais uma vez na direção, obtendo interpretações memoráveis tanto de Hawkins (Poppy), como de Eddie Marsan (o instrutor Scott), além de demonstrar destreza na concepção do roteiro (indicado ao Oscar da categoria de Roteiro Original).

A história, no entanto, não demonstra tanta densidade e peso quanto os seus filmes anteriores. Não digo que seja superficial, mas é que o caminho tomado pelo diretor, para mostrar as mazelas de certas relações humanas, agora se dá através do humor. O sempre bom humor de Poppy é que desconcerta o taciturno Scott, mas que de alguma forma o envolve também.

Acho que é o que acontece com o público que assiste a "Simplesmente Feliz". Algumas pessoas devem se sentir incomodadas e até, irritadas, com a forma nonsense com que essa balzaquiana leva a vida, no entanto, uma outra parcela (e nessa, me incluo) sai leve do cinema, envolvida com a percepção de mundo da protagonista.

Uma percepção de mundo mais otimista do que pessimista e de uma certa forma, defensiva. Por traz daquele pseudo atabalhoamento de Poppy, existe um receio de se machucar, uma cautela...mas é tudo muito sutil. Alguns só conseguirão enxergar o 'estilo Polyana' dela levar a vida, porém, é querer dar uma explicação forçada e simplista demais.

Depois de lidar com alguns problemas cotidianos (uma torção na coluna, o garoto briguento da sala de aula, a relação tempestuosa com a irmã grávida), Polly vai enfrentar seu maior desafio: o professor da autoescola, Scott. A cena em que eles discutem, revela a marca Mike Leigh.

É o momento em que o colorido humor de Polly que tomou conta da tela até então, é substituído por um sombrio e nebuloso mal estar. A música vibrante de Gary Yershon ("Topsy-Turvy") dá lugar aos brados do irado Scott e as angústias de um e de outro (por motivos distintos) vêm à tona.

Para não dizer que o filme é perfeito, ainda não entendi o encontro de Polly com o mendigo. Achei uma cena desnecessária. Contudo, se for para colocar isso na balança não pesa o suficientemente contra a ponto de estragar o filme.
Delicioso o final em aberto. Deliciosamente feliz. Simplesmente...Mike Leigh.

Texto: Suyene Correia
Foto 1: Scott e Polly duelam constantemente, cada um com suas armas (divulgação)
Foto 2: Polly e sua amiga Zoe (Alexis Zagerman) num passeio de fim de tarde (divulgação)


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